O peso acamava a erva húmida. Não fazía mal, estava habituada a sentir as costas molhadas, o bafo quente e com cheiro de acetona em cima da cara, pelo pescoço. Pensava nele, só pensava nele e alivia-se de outras dores que naqueles instantes não doíam porque as moedas assim ganhas são como outras iguais às do volfrâmio que também lhe pesam nas costas e se escurecem nas mãos de quem procura a carne como a noite caída. Troca o minério e troca o corpo por aqueles que longe de casa sentem saudades. Este já está, o dinheiro na mão, amanhã farinha e açúcar.
Mais uns passos, talvez outro vagabundo da noite apareça. Rondou as árvores, faz-se mostrada, a saca às costas que se mais nenhum vier o minério há-de ir a outro lado.
Um silvo do outro lado chama-a, é ele. É o assobio dele a cortar a escuridão e alumiar-lhe o caminho até ao primeiro beijo da noite. Larga a saca, a corrida leve, o coração disparado, outro silvo, tomba.
Desta vez é ela que aquece a terra, húmida do sangue que corre pela noite fora.