DEC.LEI Nº344/97

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Escrever é poder amar-te



quarta-feira, 16 de maio de 2012

PARA ALÉM DA ÁGUA

Que tanto olhas tu esse rio que te afogam os olhos no horizonte como se te devorassem o corpo e a alma se te ausentasse dos homens como coisa de bicho sem pensamento de bem nem mal, só fomes de comeres e sedes de beberes e nem mesmo assim este caudal te mata a sôfrega vontade de o engolir espiando dia e noite, lua e sol, enche e vaza? Dele vim, a ele volto, colo de mãe.

terça-feira, 15 de maio de 2012

VÁCUO

Tinha dias de sentir muito frio quando todos se queixavam de calor, outros que ansiava o pino do Verão quando se celebrava a Consoada, ía levando nesta vontade contrariada o ser diferente dos demais por essência não por profissão, sempre a suspirar pelo inalcansável, sempre farto quando perto, triste quando ganhava, vivo quando a poesia o desencantava do amor, faminto de fomes por descobrir esqueceu-se de si mesmo e perdeu-se da sua sombra.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

PERFEIÇÕES

Queres que te conte uma estória, pode ser, queres ou não, sim, era uma vez um sapinho com uma voz muito fininha, por favor, não faças a voz do sapinho, porquê, porque os sapinhos não têm a voz de rapariga, não, não, então que voz queres tu que eu faça, a voz de um sapinho que tinha voz fininha, e como queres tu que eu faça isso, não sei, a estória é tua, mas é para ti, então oferece-ma como deve ser.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O OVO

Por cada vez que desligar o telefone sentirá que a despedida foi para além do adeus e fica bem, ficará a viver a última vez, aquela última vez em que não sabía que era a última vez, em que devería ter sabido que era a última vez e que por isso a devería ter feito especial como nunca ou tê-la feito de tal forma como se fosse a primeira, o encantamento da primeira, como fora a primeira, porque se esquecera de tantos pormenores da primeira agora que tentava recordar com tanta força para fazer esquecer a última vez, esta maldita despedida que não sabía que havería de ser a última, e ele, ele também não sabía, se ao menos ele o soubesse, porque não lhe havía ele de ter dito e avisá-la e recomendar-lhe que com muita força lhe avivasse a memória todos os pormenores da primeira vez, assim juntos poderíam despedir-se. Por cada vez que atender o telefone sentirá que o absurdo da despedida está no inicio, no encantamento da primeira vez.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

VERDADINHA

Primeiro dobro a meio e de seguida em duas abas como se asas fossem para navegar até ti que do rio se fazem céus se assim eu quiser e logo fica um triângulo a imitar uma vela para que o sopro dos teus sussurros me façam veloz a ligar as duas margens, de seguida empino o resto e há quem lhe ache um chapéu e se assim fosse, de capitã meu sería dos teus sonhos, mas na verdade verdadinha é tão só um bonequinho, um pequenino barquinho que resolvi lançar à água levando palavras miúdas, coisa pouca, coisa simples, como gosto de ti.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

(TODOS)DIFERENTES

Tirou o pé do chinelo de pano e apoiou-o sobre o peito do outro pé sem nunca parar de descascar as batatas num movimento circular contínuo até a casca fininha se tornar comprida. A última batata era deformada e com olhos verdes, rodou-a entre os dedos e pareceu-lhe mal entre as outras tão ovais e perfeitas na sua cor de palha. Foi tirando altos e acertando falhas e quando deu conta tinha esculpido  um coração.

terça-feira, 8 de maio de 2012

DESTINOS

Esfregou a pequena flanela na lente espessa e cerrou o olho míope a adivinhar a nódoa gordurosa dissolvida pelo calor da fricção, não via nítido, espreitava-lhe a biqueira do sapato preto enviusada e pensava que talvez fosse dia de graxa embora lhe apetecesse mais nada fazer, tão só um copo de leite, um copo de leite frio e umas linguas de veado demolhadas como a sua mãe lhe costumava presentear quando tinha febres que o impedíam de assistir às aulas, aquele paladar fresco e doce a amaciar o rubor da garganta arranhada, porque diabos se estava a lembrar de linguas de veado a uma hora destas, já nessa altura vía mal, os colegas chamavam-lhe caixa de óculos e isso dava-lhe febres, coisa de miudos que já lhe passara felizmente, agora era rijo, compôs os óculos, os sapatos aguentavam mais uma jornada, e se passasse por uma pastelaria para comprar umas linguas de veado mais o pacote de leite que tinha em casa já tinha o serão feito... Sorriu. Nem se incomodou por o terem pisado, apesar de não haver um pedido de desculpa.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

HISTÓRIA

Há uma janela de vidros cristalinos sem cortinas nem portadas enfeitada pelo porte de uma mulher sentada de mãos pousadas no regaço perdido e olhos sem tempo no cabelo preso no travessão abandonado pelo amante partido duma guerra esquecida sem vitórias de vivos ou mortos mas lembranças de estátuas e monumentos de memórias de mulheres sentadas à espera em janelas cristalinas pelo tempo de mãos de vidro e olhos perdidos.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O MEU NOME

Rodopiar, rodar, olhar o céu de braços abertos, girar, girar, fazer da saia uma balão que eleve pernas e pés da terra e deixar de sentir firme, só leveza, só tontura, só ares, só azul, subir tão alto quanto os sonhos e só descer se tu me chamares.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

NIMBOS

Mandei pendurar nimbos no azul para que possamos correr descalços por todas as estórias que trago para te contar, mais de um milhao já te disse, que isso de números é para os homens e o riso é para os sábios e as gargalhadas que te escuto quando te dou palavras são mais certeiras que fórmulas matemáticas que tenham inventado até agora, pois nunca vi cientistas a correram em fofas nuvens brancas e a nós basta-nos dar as mãos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

MARAMAR-TE

Achavas então que o rio me secara na voz estas palavras mudas que te conto nas linhas floreadas de azul de vir? Apenas tomei fôlego que tu me levas toda, pedes-me tudo e estórias de metades não são para ti, não são do meu Rio, não são amar-te.Inundo-te.