DEC.LEI Nº344/97

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Escrever é poder amar-te



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CONTA-ME UMA HISTÓRIA

Hoje não falo nada, vem, deixo-te a vontade de lembrares outras palavras como quem desfia saudades de frutas da meninice dada em talhadas demasiado grandes numa boca pequena para tantas coisas que se quer dizer, sentía-se tudo e não se falava nada, saboreava-se, vem, hoje o meu paladar é ver-te comer cada desenho de uma folha enchida a pulso pela madrugada a entrar e eu aqui, afago-te o cabelo, beijo-te o cabelo, deixo que me contes as minhas histórias como se fossem a minha boca a dizer vem, tenho tanto para te lembrar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

NADA DE NOVO, TUDO NOVO

O gato tinha mais fome de festas que da taça de ração. Sacudiu-lhe o lombo macio, a muda do Outono. Não se sentou a assistir às noticias, sabía-as, mais um roubo, mais uma fraude, mais um jogo empatado entre bons e maus ou maus e bons, que nestas coisas dos adjectivos a carga pessoal pesa sempre mais. Nada de novo. Só a hora avançada no relógio mentiroso lhe esfriou os pés nas sandálias matutinas quando se acorda com sol e se regressa no parco do agasalho nocturno. Olhou os olhos do gato, tentou encontrar-lhes o olhar que achara no metro de regresso a casa, um homem tão farto e tão sabido de noticias quanto ela. Ele olhou-a, um segundo, talvez dois, ou talvez nada, ela agora pensava que a cabeça tem dessas coisas e dá a volta à realidade só porque se quer ou se precisa. O gato tinha mais fome da sua mão. Ela tinha fome de saber que estava viva.

domingo, 1 de novembro de 2009

AINDA TANTO, TANTO

Ainda me resta muito do que te possa dizer, que mesmo das pausas nada inocentes com que te prendo, há intencão de te manter aqui até exausto de tantas viagens a loucura dos dias seja a rotina das histórias com que me encho, que me faço viva, que te faço vidas de outros como minha soía e tu sem saberes quem eu sou queres sempre que seja quem sou, não vá eu faltar e tu extingues-te por só existires para eu te contar um milhão de histórias.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

MAIS UMA QUE GOSTA DE COPIAR

MARILIA TEREZA








QUE FEIO É COPIAR!








NÃO APRENDESTE ISSO NA ESCOLA? OS TEUS PAIS NÃO TE ENSINARAM? O TEU CÉREBRO NÃO TE APOQUENTA POR LEVARES O QUE NÃO É TEU?

terça-feira, 2 de junho de 2009

POR FORA TUDO NA MESMA

Não sinto nada, nada de diferente. Continuo a ser a mesma. Olho-me e vejo a mesma de sempre. Talvez este espelho devesse ser mágico e dar-me respostas.-Oh espelho! Eu ainda sou a mesma?Mas o espelho não responde, talvez esteja zangado comigo por eu já não ser a mesma. Por fora sou. Mas só por fora, para ti espelho teimoso e mudo que não me respondes… Cá dentro de mim há mares, entendes? Grandes vagas que me levaram até ele e mesmo que eu lutasse contra o rumo traçado pelas marés as minhas mãos tinham escrito que teria que ali aportar. Tu não entendes espelho porque nunca amaste, só te enfeitiças por instantes de quem de ti se aproxima mas amor, assim como o meu, cravado, tu não sabes, tu não agarras ninguém!Não sinto nada por fora, nem o saber-me falsária de outro amor. Não o fiz de intenção, apaixonei-me… como tu espelho traidor que agora me atiras uma mesma que já não sou.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

POR DESFIAR

Um milhão disse, e tantas faltavam na sua boca por dizer quantas as palavras já inventadas que deixava escorregar entre dedos como contas de um rosário gasto em preces infinitas, não me deixes perder a vontade, e seguía adiante, era uma vez e a partir daí tudo voltava a ser principio e surpresa e mil ou milhão eram apenas um pormenor sem importância alguma.

domingo, 31 de maio de 2009

ENCAPUZADO

Quem é?É? Pode ser, mas também a sombra leva a melhor sobre o que se espera ver depois de desenhado e até mesmo os riscos que se rasgam no ar fazem esboço do que se espera os outros compreendam tanto ou tão melhor de quem agitou o braço, tapou a boca, abafou o sussurro.Pode ser, deve ser... Ou talvez não, que julgo terá rosto crestado e da base do queixo notam-se as cicatrizes de caminhar erguido e da falta de medo do escuro.Então... Será ela?Quem sabe? Se desliza na ponta dos dedos e marcha no branco do papel pode ser qualquer um ou uma qualquer, digo, mais outra que se perdeu nessa vida de poema e pede a dor como tinta de letras.Cobre-se.Desnuda-se.Extravaza-se no canto alargado de uma elipse, não procura o fácil, entorta-se no género, na capa que gosta de arrastar pelas linhas de um caderno.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

IMPROVISO

Talvez tenhas achado que era fácil. Chegavas, rias-te para mim nesse teu trejeito de boca mais puxado à direita, os olhos azuis muito fixos no meu verde, as mãos fazendo pressão na minha cintura e bastava dizeres hum.Talvez tenhas achado que eu era transparente. Encostavas a tua boca à minha, puxavas o lábio abandonado preso nos teus, ofegavas um pouco à espera que te acompanhasse e depois afastavas o teu rosto do meu, aguando-me uma e outra e várias vezes a tua boca a roçar a minha, despertando um salivar como uma criança espera um bolo com creme.Talvez tenhas acreditado que ganhaste. Porque te beijei, mordi, lambi o sangue fino que coloriu o canto da tua boca, cheguei até a arfar um pouco subindo no peito uma vontade do teu toque, do teu apertar, eu própria te desvendei os seios e na tua brincadeira fugi das tuas mãos de dedos afastados a dizer vem buscar.Talvez te tenhas enganado. Afinal quem trepou em ti fui eu, numa escalada em que tu vertiginosa e calculadamente querías sucumbir numa queda de trapezista sem rede, agora os olhos cerrados sem querer atingir quando o chão fica mais próximo e não há regresso na subida.Eu só improvisei.E minto-te para que não saibas que me perdi neste texto, sem guião, sem ponto.Ponto final.

domingo, 19 de abril de 2009

ESCREVER&AMAR

Ouvi dizer que um dia seca, que o fundo do baú alcança a vista, esgota-se o filão, troca-se a direita pela esquerda e já nada sai de jeito. Ou então cai-se na repetição, no eco, no déjà vu ou déjà lido ou quiçá no déjà copiado, tomba a pique a expectância, pesam as pálpebras nas linhas seguidas a dedo pela dormência do verbo na chateza da folha, escasseia a palavra, sobra tempo.E do amor?É-me na letra o acto puro de ter sentidos vivos, fluir na tinta virtual da paixão que consome a lume lento a mão que prossegue caminhos e de tanto aí amar, escrevo.

sábado, 18 de abril de 2009

CENÁRIOS

É sexta à noite e quero um sorriso que enfeite o meu vestido, um assobio trinado que dos teus lábios me ponha um tango nas pernas, puxa a lua até nós, faze com que o palco seja este pedaço de estarmos juntos.Passeemo-nos.Troquemos notas de musica no gesto anguloso de apontar ao mar gritando no silêncio cumplice do que te quero a espera do que desejas.Antes da noite se deitar quero um beijo.E tão só um sorriso a vestir-me.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A MENTIRA DA PALAVRA

Apesar de me teres dito coisas importantes nunca te achei a intenção do gesto, nem mesmo quando por entre os cabelos me suspiravas amo-te. Por isso te chamo cobarde, um receoso das palavras que no fundo quando as dizías e me arrancavas do chão presa a um fio de nuvem talvez achasses que era tão só um som expelido, ar, sem forma, sem toque. Dizía-la, estava dito, fora-se. Eu chamo a isso mentira.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

VILDA

Alguns no fim do negócio perguntavam-lhe o nome, de mão esticada na vergonha amarrotada da nota, ela compunha as meias, cuidava na linha recta na bucha da perna para merecer o próximo e respondía de cigarro entre os dentes, Vilda. À segunda demanda desistíam e encolhíam os ombros, o serviço estava feito, íam à sua vida ela às suas vielas de salto a amparar as noites pardas entre vadios de quatro patas e outros que se aguentavam na coragem do candeeiro publico. E era só mais um e ainda outro, os que dessem para o tabaco e para o sonho de um dia poder trocar de nome.- Como te chamas?- Vilda.- Como?- Vil, como a vida.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

BÓNUS

Eu já merecía outro corpo. Já merecía outro rosto. Merecía por tudo o que de mim dei, a todos quanto amei, aos que permiti a fantasia de reis e sol e ainda lua e o todo que agora as mãos tortas não permitem ler nas linhas os relevos dos sabores que já provei e das cores do mundo que guardo em mim....Sabería pintar de olhos fechados.Abraço-me a este corpo engelhado onde cada vinco me fala de histórias de noites e de dias e ainda de risos e lágrimas na partida.Tenho um corpo que me veste puidamente pelo uso de tanta paixão em que me enchi.Mereço. Mereço um novo corpo que se amachuque de novas recordações, macias e ternas até nua regressar ao sitio de onde vim.

terça-feira, 14 de abril de 2009

AGORA E AQUI (CANTILENA)

Dá-me as tuas mãos, prende-as nas minhas com força, com vontade, temos tudo neste instante, dizem que o tempo apaga e adormece e até faz esquecer, diz quem o sabe e já lá vai adiante e que por aqui passou antes de nós, por isso sabem, por isso devemos tudo um ao outro agora e viver e até morrer para voltar a nascer de outra forma lá mais para frente de mãos dadas que embora tão atadas como as nossas de agora já não serão as mesmas, quero-me feliz neste momento e depois no outro e sempre mas quero agora para aprender melhor e quero aqui e já porque não sei se a vida me tapa os olhos e eu perdida do que quero agora te esqueço a ti e a nós e deixo escapar o que guardo nas nossas mãos juntas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O RIO

A mulher deitou-se no rio, deixou-se levar na corrente, braços abertos na cruz da vida. Vai leve neste berço que canta todas as cores desde o nascer até o sol riscar a fogo a hora de descansar. A mulher deitou-se ao rio e largou na margem a tristeza e a dor, despiu as mágoas e as lágrimas, esqueceu-se de tudo o que era feio, agora o tecto é o céu, a terra esta água tanta que a embala. A mulher vai pelo rio, voltou a ser pequenina, pode rir e brincar, tocar tritões e golfinhos. A mulher mergulhou no rio. Foi-se. Amanhã,ao abrir o caderno de esboços o rio voltará a levá-la em todos os sonhos que desenhar.

domingo, 12 de abril de 2009

REGRESSOS

Há um paladar de déjà vu e no entanto, do novo se abre o olhar como se nunca sentira gosto tal.Volto, pintada de outras cores, o mesmo contorno que me conhecem a negro, preparada como um mata-borrão para os sentires, para os amores, para as lágrimas que disfarçadamente aperto e acuso serem de tanta luz no verde que me molha os olhos.Volto, paramentada de abecedários que misturei e refiz, o velho no inovado, superlativos. Dulcíssimo.Volto, de braços cheios de abraços, silêncios cúmplices, rios e terras inventados, alguns beijos... poucos, tal como a rosa oferecida.Há no regresso o sabor da pimenta-rosa, delicada, perfumada, mas violenta na diferença do tempero.

sábado, 11 de abril de 2009

A ILHA

Nas palmas das mãos curtidas pelo sal das suas lágrimas encontrou um mar navegável de sentires. Viajava-se: imaginava como sería o coração daquela por quem esperava, uma terra avistada mas parecendo sempre longe do alcance pela maré contrariada e nas voltas que dava achava-lhe cada vez maior o sabor do desejado porque desconhecido.Roçou porém esse terreno fértil e logo o calor tomou barco e mestre, fê-lo descuidado saltar e perder o cabo da nau.Embrenhou-se nela, tomou-a, beijou e sussurrou-lhe o desespero de largar a vida sem que tivesse bebido de outras águas que não a sua tão salgada.Esqueceu tudo do mar, as estrelas, o canto das sereias, o dominio do leme, permitiu-se afogar no tesouro maior de seu amor.E quando se achou homem rico na terra a perder de vista tornou-se ilha, chorou e esperou que nas linhas de suas palmas lhe desenhasse de novo a rota da descoberta.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

PENSAR IDENTIDADES

Receosamente o toque dos nós dos dedos mostraram o bilhete de uma identidade esperada, tudo materializado no som doce da madeira aflorada pela pele, és tu direi eu mas não diz nada, engole das suas palavras para sossegarem o trote do cavalo que desfila no peito, e ainda não era nada, não era imagem não era nome, era o pensamento a chamar quem está longe do lado de fora da porta e encontra nessa fronteira a visibilidade da imaginação e compõe tudo com frases que sonhou ouvir dando-lhes a modulação parada do eterno amoroso, receosamente. Se não forem os dedos das mãos que espera apertar valerá pelo que sentiu ao enganar-se serem o som de quem espera chegar.

sábado, 4 de abril de 2009

DANÇA?

Dirigiu-lhe a mão levemente curva, ela olha-a, depois a ele, vai aceitar. Se disser não toda a noite dancará à roda dela sem ela a girar; se ele não pedir toda a noite estacará no ombro encostado da interrogação. Vão leves, vão firmes na tremura do descompasso, no pé trocado entre tempos e deslizes, rosto no rosto, coração ao lado, esquerda, direita, pára, volteia, a saia dela animada abre um chapéu ao sol do lustre, cintura segura na palma apertada, pele e tecido, joelhos que se beijam em toques sentidos no rubor da boca envergonhada, não fala nada. Dança, não fala nada.



ESTE TEXTO FOI ESCRITO E PUBLICADO PELA 1ª VEZ NO WAF ONDE PARTICIPO A 18/03/2008. AGORA AQUI REPUBLICADO.


INFELIZMENTE PARECE SER ESTE MEU ESPAÇO MUITO APETECIDO POR PLAGIADORES, POIS FUI DETECTÁ-LO AQUI

E TAMBÉM AQUI


CLARO QUE SEM QUALQUER REFERÊNCIA AO AUTOR, OU SEJA A MIM.

OU SEJA, MAIS UM ROUBO.

sábado, 21 de março de 2009

UM BEIJO A VÓS

Obrigado a todos os que têm vindo, seja com marcas deixadas seja pela passagem nas letras que se juntam a um Milhão.


Outras tantas histórias farão largos dias em futuro próximo.


Afinal, escrever é poder amar-te.

quarta-feira, 11 de março de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

AINDA A PLAGIADORA

A plagiadora tem outro espaço de comentários abertos onde lhe deixei o seguinte recado:

Agradeço-lhe que se retrate publicamente quanto ao plágio que fez do MEU texto, de MINHA autoria e intitulado de "CLONES".A senhora deu-se ao trabalho de roubar o que não é seu, copiar a nota de rodapé (E cito: "Desabafo de quem voltou a ser plagiada")mas parece ter-se olvidado do mais importante: O meu nome como AUTORA do que levou sem autorização.Saiba que para além do meu blog "UM Milhão de Histórias Por Te Contar", esse mesmo texto está registado no Luso-Poemas e no WAF, para além de estar protegido pela SPA (Sociedade Portuguesa de Autores).Devería ter vergonha!Queira de imediato explicar-se e retirar do seu espaço aquilo que não lhe pertence.Recordo-lhe que Plágio em Portugal é CRIME e se não tratar de imediato de emendar o seu cobarde gesto terei de accionar os mecanismos legais.Acrescento-lhe que o seu acto está já publicitado nos vários espaços que lhe referi.Tenha vergonha.


Link do post onde deixei o comentário:

http://euanasarinha.blogspot.com/2009/02/unico.html

Do blog Infinito Particular http://euanasarinha.blogspot.com/

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

NOVO PLÁGIO

É lamentável que hoje aqui venha, mais uma vez expressar - e avisar - a minha tristeza e revolta por mais um plágio.E pasme-se!Plagiaram o meu texto sobre plágios intitulado "CLONES"inicialmente publicado no WAF e no Luso-Poemas onde participo.
Ironia?Não. Sem carácter. Sem vergonha. Sem espinha dorsal.
Eis o link:

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

(A)GUARDAR

Beija-me anda, não percas tempo, não vês que o quero e tu castigavas a vontade no trepar caminhado dos teus dedos pelo meu ombro acima, cócegas no pescoço, serpenteavas os caracóis no riso baixinho e húmido dos teus lábios que me apetecíam, um toque na ponta do nariz, talvez entorte os olhos e te guie a mão em concha ao sitio do coração e te peça de novo no silêncio sorrido do beija-me anda, não percas tempo e tu sempre nesse encanto distraías-me, davas-me a mão e passeavas nela os caminhos das linhas até inventares trilhos separados e eu triste pedía-te um beijo anda, antes que seja tarde... e tu beijavas-me as palmas, fechava-las nas tuas e eu sossegava.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

ESCOLHO

Dos sete nem mar, nem deuses, nem magia dos números.Apenas dias, os corridos e os longos na medição do olhar, nas linhas que enraízam saberes e dores e ainda os calos de afagar os teus anos na minha memória, nas flores que sequei entre livros de poesia, nos amanheceres e no escorregar da noite a cobrir-nos de mazelas de amor na despedida.Escolho os dias. Mas só os sete de ti.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ESCREVER E AMAR

Ouvi dizer que um dia seca, que o fundo do baú alcança a vista, esgota-se o filão, troca-se a direita pela esquerda e já nada sai de jeito. Ou então cai-se na repetição, no eco, no déjà vu ou déjà lido ou quiçá no déjà copiado, tomba a pique a expectância, pesam as pálpebras nas linhas seguidas a dedo pela dormência do verbo na chateza da folha, escasseia a palavra, sobra tempo.E do amor?É-me na letra o acto puro de ter sentidos vivos, fluir na tinta virtual da paixão que consome a lume lento a mão que prossegue caminhos e de tanto aí amar, escrevo.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

CLONES

Gostar é bom. É natural, humano e também racional e denúncia de carácter.Copiar é preguiçoso, ambíguo, mal-amado, bastardo.Roubar é feio, vil e purulento.Por isso roubar o que é de outros é o mesmo que tentar levar no sono dos justos o pedaço de cérebro que fabrica os sonhos. O que dá bónus de vidas à vida corriqueira e alinhada, é fazer do comezinho a vida de outros e tentar decalcar na própria vida a que não se tem arte para ter.Quero eu com isto dizer que plágio de letras é o mesmo que amputar-me. Que até podem clonar-se de mim, mas nunca terão aquilo que só eu vejo e tenho capacidade de revelar.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

COMO TE DÓI?

Quando magoa dói por todo o lado, nas mãos, no olhar, o acre da boca a esmagar as lágrimas e também no engolir do nó seco que teima em não ir para baixo. De baixo, sente-se por baixo do mundo, acodem-nos as memórias de um tempo sem medida em que as dentadas no ventre são como coitos macerados na vontade de entrar no outro e devorar lembranças para que mais nenhuma reste senão aquela tão única. Dói, como rasgar desenhos de infância em que o céu era azul e o sol amarelo e depois tudo se mistura numa amalgama sem cor que não seja o negro. Ou o branco do querer esquecer.Será que se esquece, que se olvida a mão a conduzir o caminho do sangue nas veias?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

UM COPO

Apetecía-me dizer-te coisas escandalosamente poéticas e no entanto, fico a passar o dedo indicador pelo fio do copo cheio de boqueiras pegajosas e tu, fazendo sala, falas-me de feitos que nunca fizeste só para me impressionares. Vejo nos teus olhos que não despegas das marcas dos meus lábios decalcados no copo e toda a boa conversa é uma mentira lenta que se arrasta a esta mesa redonda de bistrot em que as marcas húmidas dos fundos dos copos vão avançando no sentido de cada um como terreno comido ao outro.Apetecía-me que não deixasses a noite escorrer.E no entanto, terminas a tua bebida escorropichando gotas que imaginas como sendo minhas.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

PINGOS DE LEMBRADURA

Martelavam à vez os calcanhares no muro de embarque que já fora de caiado. Abaixo as linhas muito brilhantes do combóio. Estalavam os dedos das mãos, disputavam o maior ruído, depois riam, depois bebíam do pacote de papelão o vinho amargoso de menor preço conseguido. Um gaba-se da sua astúcia no ludibrio do empregado assustado pelas barbas sujas e grisalhentas de muitas noites ao relento a sonhar com estrelas de cinema. Este é do bom, é, é e vai mais um gole que já nem queima só amorna.Agora batem com força os calcanhares, as pernas balançadas adiante. O outro gaba-se de como era bom a andar de baloiço. Riem-se, era, era. Nem mais uma gota pinga, param os sapatos no ritmo de pé quebrado, já beberam tudo, já recordaram tudo por hoje.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DO QUE RESTOU

Não recorda mais nada. Mas a boca essa ficou. Um boca cheia, polposa como uma maçã, o lábio superior ligeiramente arrebitado como uma crista de onda e depois, aqueles dois tracinhos muito macios que nascíam da base do nariz. Ela tinha a presunção de lhe chamar a marca do anjo e ele, de dedo espetado afagava-lhe aquela covinha, um truque para a distraír enquanto se aproximava da boca dela...Não tem memória da cor dos olhos ou se o cabelo era longo ou curto. Talvez a tenha amado, daqueles amores à séria, quase venenosos que tomam tudo e ocupam o espaço todo. Agora não sabe, tão pouco se lembra de alguma palavra das que muito provavelmente devem ter trocado.Só tem a imagem fixa da boca, cada vez mais próximo da sua, apanhar-lhe o beiço de baixo nos seus, sorvê-lo, puxá-lo para si até as comissuras se abrirem.Se essa boca por aqui passasse ele ía sabê-la na certeza de ser aquela boca.E assim restaría por mais outros cinquenta anos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A CAMA

A cama está fria. Levaram-lhe o peso, a marca, a engelha, aquele cheiro quente adocicado de quem lhe revolve do enchimento o embalo do sonho e a tormenta do pesadelo, o molhado do suor no desejo do encaixe e das lágrimas asfixiadas na febre do esquecimento, a distância do corpo e o corpo a vir, as feridas de costas voltadas para a medida solteira, o solilóquio da noite e o monólogo do porvir, a herança da nódoa amargurada e o som abafado da gargalhada escarlate.Esconde. Tapa tudo. Cobre de colcha que logo mais a cama desvenda-se como um livro folheado.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

BOA NOITE

Esta noite segura-te no amparo de meus seios, encaixa-te nas minhas costas, sussurra os teus joelhos na curva das minhas pernas e ri-te dos meus dedos dos pés que eu disfarçadamente roço a cova do ladrão no teu nariz apurado, queres mar, eu quero mais e peço-te o oceano e tu embalas docemente no traçado dos teus braços a descompasso do peito esta forma perfeita achada para nós, beijas no meu cabelo as horas da noite que escorregam paredes filtradas de madrugada e de mãos dadas num porto nosso murmuras ensonado boa noite.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

FOGO

Já havía sido testemunha calada de muito mas como tal nunca houvera sentido que o silêncio pudesse ser tão surdo nos ruídos do crepitar, desfazer, deixar de existir num inferno na terra em que o pecado por provar assim restaría para o sempre. Veio o fogo e comeu, lambuzou-se das beiras e da casa e das recordações, ficou o nada no sitio do tudo e o nada ocupava mais espaço que o tudo que sempre morara no coração e deste pouco havía a saber, tão só as mãos na cabeça perdida e rolada entre escombros que o tempo sería o mestre a levá-los e as cãs jã não podem esperar por outros sons, por outras casas, por outro incêndio que arrase, por mais um tempo que lhes dê tempo para recomeçar. Foi testemunha calada mas o lume também a levou.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Shhh

Sossega, é apenas o vento a cantar nos beirais, não deixo os trovões nem a luz dos relâmpagos levarem-te de mim, sossega comigo embalado no abraço quente que te cruzo no dorso, fecha os olhos e ouve-me nos segredos ciciados que apagam o troar do teu peito, é só o vento, apenas eu a dizer sossega, não tenhas medo, estou aqui...



(Ao meu cão que teme as trovoadas)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

AINDA ESCREVO, AINDA TE AMO

Tanto tempo amor, tanto tempo sem te contar de águas e de lumes que me arrastaram para longe, que me trouxeram batalhas em palavras novas, todas juntas inventadas no apartado sentir que de ti não me esqueci nem perdoei às horas que nos deram treva na luz do sol que agora volto a descobrir do sotão onde me fecharam, volto amor, volto para escrever e para te amar em cada linha que desfio até contar um milhão.