O peso acamava a erva húmida. Não fazía mal, estava habituada a sentir as costas molhadas, o bafo quente e com cheiro de acetona em cima da cara, pelo pescoço. Pensava nele, só pensava nele e alivia-se de outras dores que naqueles instantes não doíam porque as moedas assim ganhas são como outras iguais às do volfrâmio que também lhe pesam nas costas e se escurecem nas mãos de quem procura a carne como a noite caída. Troca o minério e troca o corpo por aqueles que longe de casa sentem saudades. Este já está, o dinheiro na mão, amanhã farinha e açúcar.
Mais uns passos, talvez outro vagabundo da noite apareça. Rondou as árvores, faz-se mostrada, a saca às costas que se mais nenhum vier o minério há-de ir a outro lado.
Um silvo do outro lado chama-a, é ele. É o assobio dele a cortar a escuridão e alumiar-lhe o caminho até ao primeiro beijo da noite. Larga a saca, a corrida leve, o coração disparado, outro silvo, tomba.
Desta vez é ela que aquece a terra, húmida do sangue que corre pela noite fora.
3 comentários:
Ora ai está.
Queixava-me eu que ao teu Negro faltava Preto. Que nos enquadravas bastante bem quer nos espaços quer nas personagens, permitindo-nos vasto terreno para sacanear cada um dos sentires. Mas nunca tu autora os tinhas conseguido expulsar da tua Pena com o breu suficiente para tapar também a Lua.
Pois, conseguiste-o hoje. Muitissimos parabéns, pelo que me lembro, este é o teu melhor post por aqui.
É incrivel que tenhas conseguido regressar à pujança de outras essencias, mesmo suplantando-as, num espaço tão mais reduzido de conteudos... a devida vénia.
Beijo (agora sim) venerando-te
relembrando memórias de outros tempos...
como sempre a tua escrita cativa-me
Beijinhos
BF
Deixo um suave assobio que só tu podes ouvir para te chamar para junto de mim.
Deixo um beijo sentido
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