Pediu uma água, traçou a perna e abanou o pé. Não esperava ninguém, apenas olhava os transeuntes apressados, florestas de pernas que se cruzam em passos, apertam os sexos no andar de cá para lá. Pensou quantos quilómetros faríam aquelas pernas até ao final da vida. Veio a água, esqueceu as medidas e as pessoas e perdeu-se no rio, a vista a esticar-se até onde já nada se vê, apenas um risco branco que delimita o azul-verde-cinza de tanta água. A do copo transparente, a do rio opaca que não deixa ver segredos nem o que enterra lá no fundo junto ao lodo. Mergulhou os dedos no copo e passou-os no rosto: quería ver o rio e sentir-se molhada como se nele se tivesse enterrado. Pensou quantos quilómetros podería fazer lá no fundo do rio entre florestas de algas e peixes e restos de barcos que se segredavam entre si como lá tinham ido parar.
Sentía-se um barco naufragado sem leito de água e areia para domir, uma desajustada nas florestas de pernas que fazem quilómetros sem passos sentidos nos sexos apertados, um olhar azul-verde-cinza sem risco de horizonte para contemplar quando a vida se torna lodosa e transparente - só mesmo o pensamento.
Sentía-se um barco naufragado sem leito de água e areia para domir, uma desajustada nas florestas de pernas que fazem quilómetros sem passos sentidos nos sexos apertados, um olhar azul-verde-cinza sem risco de horizonte para contemplar quando a vida se torna lodosa e transparente - só mesmo o pensamento.
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