Colhía flores, contava ele. E ao explicar as mãos dela tombando aqueles pés verdes e hirtos, parava na voz a comoção de a ter visto, ao longe é certo, mas a visão daquela mulher vergada pela profissão, debruçando-se sobre a terra atingira-o para todo o sempre. Agora já podía dizer que tinha uma recordação, um bocado de vida guardado dentro da cabeça para se socorrer nas horas mortas do tempo.
Colhía flores por cada beijo que dera, continuava ele. E entristecía-se um pouco por não ter sido ele um dos eleitos, um dos beijados na pele da boca, os lábios apertados entre outros lábios, os dela. Agora já podía dizer que tinha esperança, que talvez um dia ela chegasse junto às flores que ladeavam os pés dele e chegasse mesmo, quiçá, a tocar-lhe os lábios nos lábios molhados da sede de tanto se vergar para colher flores.
Colhía flores por cada beijo que dera, continuava ele. E entristecía-se um pouco por não ter sido ele um dos eleitos, um dos beijados na pele da boca, os lábios apertados entre outros lábios, os dela. Agora já podía dizer que tinha esperança, que talvez um dia ela chegasse junto às flores que ladeavam os pés dele e chegasse mesmo, quiçá, a tocar-lhe os lábios nos lábios molhados da sede de tanto se vergar para colher flores.
Sem comentários:
Enviar um comentário