Fazía-o como ninguém: suave, cremoso, untuoso, perfumado, colorido naquele amarelo de gemas gordas, largas como pires, as cascas de limão muito finas a espreitarem na mistura borbulhante, sempre à roda, sempre a mexer, tudo leite muito gordo, muito olhar sobre o lume, brando de abrir o arroz, nosso carolino que dobra e é macio. Anunciava as delicias de quem o iría tomar, colher a colher até rapar o seu amor perdido de amores por aquele doce, o açúcar no ponto certo sem enjoo ou amargura. No enfeite o beijo final, esmiuçada entre dedos a canela em pó a desenhar grelhas, flores, rendas perfeitas, monogramas que se entrelaçavam com o que de si oferecía e o sorriso que cobrava. Gabavam-lhe a mão, a maestria artesã de tal remate na refeição. Nem notavam que o que os adoçava era o carinho mexido na panela, os perfumes a pairar no calor de quem faz porque ama.
(À minha Avó F. Sant'Ana)
3 comentários:
Gosto da parte onde jaz parte da vestimenta do limão.
*
regredi,
ao doce arroz,
doce,
por condição,
,
xi
*
Já sinto aqui o cheirinho...
Abriu-me o apetite!
Um beijinho grande!!!
M.
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