Primeiro os sons. Depois o cheiro, logo a seguir o tacto. Os olhos vão permanecer tranquilos, embalados na água morna dos sonhos que ainda se conseguem lembrar, fechados para guardar as nuvens polposas e brancas para onde voou; daqui a algum tempo a memória apagará tudo e só resta a sensação de conforto de um sono bom. Nas mãos o macio da roupa de cama, algumas engelhas do aconchego dos lençóis puxados ao pescoço, joelhos próximos do ventre, pés traçados retardando o despertar. Abre os olhos, abre, ouve-se dizer. Abriu, fechou, acomodou a retina à luz filtrada do quarto, pestanas a afagarem a vista, não há nuvens brancas, nem voos de pés nus no tule esvoaçante. Eram nuvens? Talvez algodão, bolas de algodão... cama boa, paz, tanto silêncio. Até o apito ondulado do amolador lá fora soa a sonhos. Esconde as mãos em prece junto ao sexo quente, o queixo puxado ao peito, se o amolador soprar o apito de novo levanta-se. Não ouve nada, só o seu respirar, a boca seca, os pés acariciando-se na macieza da pele, o amolador a chamar a chuva. Não se levanta. Se o amolador soou outra vez é porque vai chover e aqui está seco e bom e morno e macio como se a cama fosse de nuvens de algodão. Se fechar os olhos e beber o quarto talvez volte a sonhar.
domingo, 18 de novembro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
"E eu penso
em ti, sem sono, a sós, angustiado e febril,
em ti, que nem eu sei se te lembras de mim..."
Sentado na beira da cama os meus dedos tocaram nos teus cabelos, sem me sentires fiz ondas com eles e só com um dedo percorri o teu rosto suavemente ao encontro desses lábios sem os meus.
Levantei-me e passei em frente ao teu olhar que sem me veres o senti perdido em momentos.
Agora já sem sentido e escondido no tempo sem fim estou sem as tuas mãos.
Pudesse eu voar na tua imaginação.
Beijo
Bom conto! Boa preguiça...quando se está bem acompanhado também!!!
Pérolas incandescentes de imaginação.
Eärwen
Excelente!!!
Voltar�s a sonhar, sim!
Deixo Mimos
Enviar um comentário