06.00 PM. Outubro, finais. Desligou o rádio, puxou o travão de mão, descansou o pé, segurou o volante de mãos firmes, dedos espaçados. Parada no trânsito, parada na vida, caminhada sem meta, o ir e vir da rotina, ao lado outros tantos cópia de si. Espreitou o espelho retrovisor, ajeitou-o à borbulha despontada na testa, apertou-a sem misericórdia, atrás, a buzina impertinente e ininterruptamente esmagada sob a palma furiosa pedía-lhe que iniciasse a marcha sem estrada para andar. Agitou os braços ao alto e fez cara feia, espetou o dedo medio frente ao espelho e a buzina respondeu-lhe já rouca. Zangada, blasfemou, aumentou o volume expelido pela garganta, despejou a seguir num berro a incompetência do chefe, o projecto no fundo da gaveta, a malha na meia, a zanga com o namorado, o café frio, a ida adiada para casa. Baixou a cabeça, bateu com a testa no volante e sentiu os cabelos entrarem-lhe na boca. Sentiu necessidade de chorar mas não conseguiu, só arfou de raiva. Devagar ergueu-se, olhou defronte, viu as luzes do carro da frente incendiarem-se e à largura de todo o vidro do párabrisas um céu imenso a entrar-lhe no peito. Riscado a anil e violeta, encimado por uma barra cinzenta, o dia seguía para casa, lento, calmo, uma tranquilidade quase pesada, quase compacta numa hora de despedida. Em breve a noite entraría no seu turno de trabalho tão lenta e calma como o día fechava a porta. De tamanha beleza ensurdeceu à buzina que avisava o reinicio da fila em marcha e agradecida deixou que tranquila as lágrimas apagassem a ira.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
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2 comentários:
Novembro, finais de um dia sem chuva!
Restam as lágrimas...
Tantos momentos de raiva nos enchem os olhos de lágrimas e a garganta de gritos.
Beijinhos
BF
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