Ao abrir a gaveta o colorido dos lápis mordeu-lhe a vista. Ficou parado num tempo a olhá-los a vibrarem no grito de súplica para virem à luz do dia manchar uma qualquer folha branca de papel. Hesitou no escolhido... Mas o berrante vermelho prendeu-se-lhe à mão e bem seguro entre os dedos logo tingiu pulso, braço, subindo vertiginoso até à boca e intruso alastrou-se pelo homem todo.
As outras cores ciumentas agitaram-se e ameaçaram inundar a gaveta fazendo-se perder em mares incontroláveis e misturados, impossíveis de separar o azul-céu e o amarelo-sol.
O homem mergulhou ambas mãos e agarrou as cores num feixe. Sentiu um relâmpago dentro de si, o vermelho ciumento pelejando pela exclusividade, o verde tentando atingir a alma, o branco directo ao coração, uma luta de territórios pela tintura.
Derrubado deixou de se debater. Procurou a folha e rabiscando permitiu que a arte se fizesse.
2 comentários:
Este texto é incrivel, adoro-o.
Beijo
não haja dúvida minha querida que a escrita é mesmo uma arte... e tu tens essa arte em ti.
Beijos
BF
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