Tinha saudades.
Engolía na secura da ausência silêncios que se assemelhavam a bolas de algodão e no nervoso dos dedos enrolava mechas de cabelo em espirais que recomeçava e recomeçava num sem-fim, como se de algum modo apertasse o tempo e a longura dos dias se abreviasse até à ponte do reencontro.
Num momento soluçou, tombaram lágrimas em catadupa, o lábio debaixo a tremer num frémito, os dentes armados em barragem e depois o berro, o abrir de tudo: Desde o coração até ao som agudo incontido na dor da saudade.
Chorou como as crianças, batendo em si própria, a sacudir-se em espasmos, o ruído alojado nos pulmões a saír como um silvo que vai longe até morrer e volta depois poderoso.
Acercaram-se dela, perguntaram pela aflição. Ela sentía-se aliviada, quase renascida, libertada com tanta explosão de sentires sem contenção.
Trouxeram-lhe um copo de água, deram-lhe umas palmadas nas costas à laia de conforto acrescido de uns conselhos. Pediu uma rodela de limão.
Assim retardaría aquele amargo e lembraría a saudade a saír de si a jorros.
2 comentários:
A catartese na lágrima, encontro-a pela esquinas.
Todo o beber dos sentires se faz belo desde que recompensado.
Beijo
Que bom tê-la de volta!!!!
Não tive oportunidade de responder hoje, mas aqui estou eu para deliciar-me com as suas histórias!!!!
As coisas vão indo mais ou menos... mas aproveito a lente da minha máquina para ver o mundo com outros olhos.
Talvez mais belo...
Beijinho grande, com saudades!!!
M.
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