Sacudiu, agitou, o som metálico lá dentro a chocalhar nas outras moedas, tontas de tanto movimento, algumas a saírem como linguas de fora, a lata amassada, o vermelho da cabine telefónica estalado pelos anos, ferrugem, muita, tanta, a pegar-se às mãos e à roupa, ainda algumas teimosas que se escondem pelos cantos e não sabem o caminho da ranhura. Agora é grande, aprendeu truques, sabe como esventrar o interior de segredos, enfia uma faca e apara no jeito a saída deslizante do circulo sonante que desce pela rampa improvisada, ilumina o olhar, passa a linguínha brilhante na satisfação dos lábios, abana, ainda soa qualquer coisa, perdeu-se o metálico, um som quente que não fere a velha lata do mealheiro, espreita, afila o olho à ranhura fina que nada lhe diz, sacode, vai de faca e preso no estilete aperta um cartão amarelecido que puxa ágil no dedos. Desembrulha, desdobra, desfaz os vincos de anos nos quadrados bem marcados do papel. Um caracol de cabelo louro empobrece o tom das moedas.
terça-feira, 18 de março de 2008
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1 comentário:
Um momento maravilhoso que me fez recuar tantos anos...
Voltei ao tempo em que, também eu, me entretinha a pescar as moedas de dentro de um mealheiro de lata.
Adorei o final do caracolinho dourado, também ele guardado como se fosse parte da pequena fortuna!
Beijo
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