DEC.LEI Nº344/97

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Escrever é poder amar-te



sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

INDIVIDUAL

Encostou-se ao muro, a perna esquerda flectida, o sapato apoiado na sola raspando o musgo despontado num verde húmido das chuvas recentes de Inverno. Puxou as golas ao pescoço e as mãos frias pediram-lhe o forro dos bolsos. Deixou-se ficar a ver os transeuntes martelarem a calçada, eles num passo aberto e firme, elas saltitantes e interrompidas na marcha pelos saltos presos nas pedras branco-negro. Passavam rápido, de cabeça baixa, o olhar apontando um chão já conhecido de cor. Evitavam-no, fazíam de conta que ele nem existía. Achou-se no caminho deles a fazer o mesmo, a saltar este pedaço de pessoa que lhes atravancava a solidão da marcha e agora que se encontrava noutro plano achava-se egoísta e mesquinho. Passou uma mulher com uma criança pela mão, puxou-a mais a si, protegeu-a da proximidade do estranho com o pé apoiado no muro. Teve vontade de chamar a mulher e a criança e dizer-lhes que não era um criminoso, tinha casa e familia, filhos também e não se lembrava de ter tido tal gesto sequer perante um pedinte. Mas arrepiou o chamamento porque a lembrança o traíu e a mão no bolso repetiu o gesto da mulher quando dias antes fizera o mesmo. Olhou o relógio, ela chegou, beijaram-se, deram as mãos e seguiram caminho contando do dia um do outro. Adiante um sem-abrigo dormía num cartão sujo. Ele puxou-a e mudaram de passeio.

1 comentário:

Whispers disse...

Ola linda!

Quantas vezes, quantas mesmo, ate nos tentamos protegemos de nos mesmos.....
o desconhecido so e desconhecido ate dar a chance de dizer''Ola''
beijinhos mil
Rachel