Empurra um carrinho de supermercado atafulhado de panos, ao ombro um gato preto luzidio como uma pantera preso numa guita ao seu pulso. Caminha ao lado um cão bicolor, forte, ligeiro no trote, orellhas abanando à medida da lingua rosa pendente.
A mulher ri, ri muito. Tem poucos dentes, muita fala, não se queda no diálogo que empresta ao gato e ao cão. Senta-se no chão e estende as suas tarefas ao redor: remenda, costura sem fim panos e mais panos num afã sem descanso.
Quando pára chama o gato e o cão, descobre dos seus bolsos papéis tão velhos como os tecidos que remenda e do riso faz festa ao oferecer aos seus companheiros pequenos pedaços de pão, fruta, o que houver que tenham desprezado. Não come, alimenta-se das conversas que faz com o gato e o cão.
Empurra um carrinho atafulhado de sonhos, desliza no mundo mágico do devaneio, ampara-se na alma do gato e na fidelidade do cão.
É feliz.
5 comentários:
Tudo isso porque são os seus amigos.
E porque prefiro os animais a certas pessoas.
Beijo
è preciso tão pouco para fazer se ser feliz e nós ambicionamos tanto.
Nas ruas das grandes cidades está muitas vezes a verdadeira felicidade.
Bonita Ilustração de uma parte da nossa sociedade que por vezes não olhamos.
Beijos
BF
Ainda há quem saiba fazer do pouco que tem, o muito que vai alimentando os seus dias.
Ainda há...
Tu escreves muito bem! :)
...aqui e no =am'art=.
Mais vale ser louco(a) e sentir-se feliz no meio da sua loucura, do que ser um imbecil que se acha esperto e superior, mas lá no fundo... é tão infeliz!
E os animais são das melhores companhias que conheço!
Mais um texto fantástico que muito me agradou.
Beijo
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