Sob a luz do candeeiro de leitura revelavam-se os anos da madeira encerada, o embutido de latão que delimitava uma moldura no tampo da secretária mantinha ainda o dourado velho. A um canto um porta-retratos, ao centro um copo de cabedal gravado a ouro atafulhado de canetas e lápis afiados. A mulher alisou o papel de carta, muito fino quase transparente, pautado de linhas azuis desmaiadas. Mandou beijos no final e acrescentou com amor, assinou com rebordos carregados na 1ª e última letra do seu nome. Dobrou em três partes o papel fino e guardou-no sobrescrito que lambeu no triângulo colando o envelope. Afagou na ponta dos dedos o homem jovem que sorri da janela do porta-retratos. Ao alto deixa a carta aí encostada, só se vê o olhar e a testa, desliga o candeeiro, profere baixo até amanhã.
Amanhã voltará a sentar-se à secretária e a mandar beijos no fim da folha de papel fino enquanto sorri e afaga o vidro frio do porta-retratos que tem a fotografia do homem jovem.
Um dia alguém abrirá aqueles montes e montes de cartas e apenas lerá beijos com amor e o nome da mulher sobressaído a tinta grossa na 1ª e última letras. Nenhuma saudade, data ou pergunta encontrará na carta em branco.
As palavras esgotaram-se quando ele partiu.
2 comentários:
A saudade não se descreve, sente-se.
:)
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As palavras esgotaram-se quando ele partiu.
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sempre os mesmos fins . . .
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xi
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