Assinou a entrega e encostou o ramo ao peito e ao nariz para sentir o aroma, mas do vermelho das rosas nada exalou. Sorriu pelo encanto do gesto, uma surpresa antes do encontro. Procurou um cartão e descobriu na letra feita à pressa um lamento formal mas impossível ir. Pendurou o bouquet pelo braço, as rosas escorrendo o carmim para o chão encerado de fresco à espera de outros passos muito colados aos seus. Arrastou-se até à cadeira e ficou sem força nas costas, uma espinha caída sobre as ancas avançadas que esperavam outras no encaixe das suas. Atirou sem perdão as flores apertadas numa fita rosa muito brilhante e larga para cima da mesa, achou-as logo murchas, as pontas queimadas, um vermelho seco sem sangue que lhe desse alma. Descalçou-se e apertou cada pé de rosa entre os dedos, depois as pétalas arrancando-as dobradas e sem resistência. Sentiu-se faminta daquele amor ausente. Comeu as rosas à dentada enchendo a boca, sobrando-lhe o vermelho a tingir os lábios e nos dedos picados pelos espinhos encontrou alivio para a dor de dentro.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
As vezes recebemos rosas assim...
Pérolas incandescentes de luz.
Eärwen
17.02.08
Ola linda!
Cravando uma dor, se sente a outra mais pequena.
Amei, como sempre parabens:)
Mil beijos
Rachel
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