DEC.LEI Nº344/97

TODOS OS TEXTOS SÃO DA PROPRIEDADE DO AUTOR E ESTÃO REGISTADOS AO ABRIGO DA LEI DA PROTECÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS E PROPRIEDADE INTELECTUAL. INCORRE NO CRIME DE CONTRAFACÇÃO QUEM SE APROPRIAR, COPIAR, PLAGIAR E MENCIONAR NO TODO OU/E EM PARTE OS TRABALHOS AQUI PUBLICADOS, EM CONFORMIDADE COM O CÓDIGO DE DIREITOS DE AUTOR E DOS DIREITOS CONEXOS.
.
.
.
Escrever é poder amar-te



sábado, 5 de janeiro de 2008

O MAR

Mal chegou à beira da rocha sentiu o rosto polvilhado do disparo da onda contra a pedra, uma humidade salgada que lambeu nos lábios e lhe embaciou os óculos. A ventania abanava-lhe as calças como bandeiras e abría-lhe o casaco descobrindo o peito ao frio. Não sentiu mais frio do que o que já trazía dentro de si. O estrondo da vaga a abater-se ruidosamente encheu-lhe a cabeça de novos sons, esmorecendo as vozes que o atormentava, dificultando-lhe a sintonia da sua vontade e esta, havía-a perdido há muito, lá para o desterro das perdas de quem amara e o deixara na solidão de se manter errante dentro de si. Procurara o seu rumo mas nada valía a pena, já nada havía aqui para si, talvez o melhor fosse procurar outro caminho em busca dos que se lhe foram. Decidira. Não era uma idéia remoída e adiada, era uma vontade, um querer de já não estar. Contou as ondas mas perdeu-se, baralhou-se entre a quinta e a sexta que lhe pareceu uma só, aguardou pela acalmia a descobrir a areia mas só viu um verde, muito vivo, muito fresco, das algas coladas à rocha. Lembrou o Verão passado e como essas pedras parecíam estar cobertas de coisa velha, castanha e seca, sem vida, naquele tempo nuas de água. Vieram de novo as ondas mas envolvera-se naquelas vidas que parecíam mortas e agora tão jovens e voltou a não contar as ondas. Limpou os óculos, arrepiou-se, abotoou o casaco e decidiu que voltaría a ver o mar quando o Estio de novo o aquecesse.

Sem comentários: