Pegou na garrafa de cristal, sentiu-a pesada para além do habitual e encheu um cálice, levou-o à boca e engoliu o cognac de uma vez só, os olhos apertados, o ardor lento a descer pelo tubo interior do organismo trémulo. Sentira medo. Uma paralisia no tempo e nas pernas que a agarrou ao chão, cravada na surpresa do sucedido, talvez até uma recusa do real, um apelo ao imaginário para escapar dali rápido, veloz, talvez assim aquilo não aconteça com ela lá dentro, já o sonhou tantas vezes, um pesadelo que vem e a massacra e a atira para um poço que gira e a engole e faz doer. Mais um gole, não ardeu tanto, só sente a lingua dormente, picante, o céu da boca cheio de relevos. Sentira medo. Então aquilo era o medo. Acordada. Sem poços a engolir a sua vontade, mas medo de olhos abertos. Um cálice mais fará o medo dormente e ao quarto achará que foi uma experiência para enfrentar os pesadelos. Sabe bem, nada pica, nada incendeia, relaxa, já não se lembra de como é o medo.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Ola minha linda!
O medo faz engolir muitas vezes como facas a cortar, medo, afinal medo de que?!? tantas vezes nos devemos perguntar.
Medo de um dia acordar e ver a realidade, medo de nao ser chao que se pisa, mas sim espinhos.
Beijinhos mil
Rachel
Memórias cheias de dor...
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