Quando a chuva tilinta lá fora no varandim de metal da nossa janela e te vejo ataviado no velho roupão de xadrez, olho pelas dioptrias do presente serões de silêncio em que tricotava ano após ano e tu desenhavas ramos de flores, sempre viçosas e muito coloridas. Perguntavas-me se gostava dos teus bouquets e eu respondía-te apontando a agulha, aviva aqui, um contorno mais leve ali. Voltavas aos teus guaches e carvões, eu à camisola sem fim. Feitos os acertos demandavas de novo opinião e eu sabendo que tudo estava na mesma, concordava que assim estava melhor. E a camisola, perguntavas tu, quase a acabar afirmava eu e tu sabías que aquele trabalho havía de permanecer sempre assim, feito e desmanchado, como um ciclo vicioso.
Quando a chuva rejunevesce a terra, olho as tuas aguarelas. Tu dormitas com uma manta de lá riscada que um dia pensou ser camisola.
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