Do som sabe que chove, o estalar da água nos vidros acomoda-o sereno à cova do assento, encosta a nuca e olha o tecto. Tarde da tarde, já as tréguas do dia acenam nos ruídos abafados de quem espera que a noite alastre para se vestir de outro. E lá fora a chuva que não se cansa e vai lavando nebulosas que filtram recordações, outros sons, nomes que chamam por si. Talvez dormitasse, não há ninguém, só ele sentado no abandono do corpo mole e o tecto a escorar o que chove por dentro sem deixar saír nada, tão pouco uma lágrima. Esta chuva não é igual às outras, às de antigamente, às que ousava enfrentar sem tempo de a ouvir. E agora, porém, sem a ver, sem se levantar para afastar as cortinas das janelas sabe-a de cor, conhece-lhe a cor, não se engana com o brilho espelhado que enverniza as árvores, os cabelos das mulheres sem chapéu. Sabe que chove, deixa chover, a seguir escutará a noite.
domingo, 3 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
PARA TODO O SEMPRE
Tenho para mim que este milhão é uma unidade pequenina, minúscula, na verdade um ser liliputiano que se pendura na minha orelha e inventa junção de palavras para eu tas poder repetir como um ponto de teatro que se afoga no baixo da voz e se camufla de fosso, lembrando aos perdidos a fala continuada de uma rábula antiga. Depois o diálogo, a tua mão amparando o rosto inclinado enquanto os olhos descem à boca minha, sobem os meus olhos ao teu olhar e as palavras, as palavras soltas como perdidas, as palavras de mãos dadas na tua esperando a vez de se unirem e ruidosamente, esquecendo a platéia e em uníssono sem ensaio geral adiam o fim ao proferirem que escrever nunca deixará de ser amar-te.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
GRITOS, RISOS E SILÊNCIOS
Não demorou nada, o regresso foi ontem na luz da saudade, da saudade das palavras que te tinha para contar até cansar-me e esquecer o que te quería dizer, voltar atrás e trocar tudo, juntar tudo num silêncio absoluto que te permita ouvir o abraço do meu coração.
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