Do som sabe que chove, o estalar da água nos vidros acomoda-o sereno à cova do assento, encosta a nuca e olha o tecto. Tarde da tarde, já as tréguas do dia acenam nos ruídos abafados de quem espera que a noite alastre para se vestir de outro. E lá fora a chuva que não se cansa e vai lavando nebulosas que filtram recordações, outros sons, nomes que chamam por si. Talvez dormitasse, não há ninguém, só ele sentado no abandono do corpo mole e o tecto a escorar o que chove por dentro sem deixar saír nada, tão pouco uma lágrima. Esta chuva não é igual às outras, às de antigamente, às que ousava enfrentar sem tempo de a ouvir. E agora, porém, sem a ver, sem se levantar para afastar as cortinas das janelas sabe-a de cor, conhece-lhe a cor, não se engana com o brilho espelhado que enverniza as árvores, os cabelos das mulheres sem chapéu. Sabe que chove, deixa chover, a seguir escutará a noite.
domingo, 3 de outubro de 2010
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1 comentário:
...as saudades das palavras que me queres contar...
mas, saberei eu senti-las ou simplesmente ouvi-las sem apreender-lhes os sentido?
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