Vinha enrolado na ponta de uma vara, muito brilhante, ovalado, um núcleo incandescente que parecía ter vida lá dentro como a barriga de uma mulher prenhe, sempre a rodar, o artesão suado de bagas transparentes que deixavam antever cores de fogo tesourava-lhe um excesso mole e pendente, surgíam os âmbares vaidosos amparados no laranja e vermelho, cingía-lhe uma cintura à força do ferro da tenaz e depois na vara soprava, soprava muito enchendo as bochechas que quanto mais se deformavam mais enchíam de beleza aquele ovo que se transformava numa ave elegante e colorida. O vidreiro chorava então, o peito rebentado no esforço da transfusão do ar à sua criação, a liberdade ao seu pássaro, a sua missão terminada. Descansa hoje a vara, o polme de embrião de vidro, o ombro e a mão queimada. Já não tem coração, gastou-o na forja de dar asas a muitas aves. Fechou os olhos quando lhe cerraram as portas do seu sonho.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
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1 comentário:
Minha Querida Amiga
Sempre me emociono com os teus escritos tão belos, cheios de sentir...
Beijinhos
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