Não recorda mais nada. Mas a boca essa ficou. Um boca cheia, polposa como uma maçã, o lábio superior ligeiramente arrebitado como uma crista de onda e depois, aqueles dois tracinhos muito macios que nascíam da base do nariz. Ela tinha a presunção de lhe chamar a marca do anjo e ele, de dedo espetado afagava-lhe aquela covinha, um truque para a distraír enquanto se aproximava da boca dela...Não tem memória da cor dos olhos ou se o cabelo era longo ou curto. Talvez a tenha amado, daqueles amores à séria, quase venenosos que tomam tudo e ocupam o espaço todo. Agora não sabe, tão pouco se lembra de alguma palavra das que muito provavelmente devem ter trocado.Só tem a imagem fixa da boca, cada vez mais próximo da sua, apanhar-lhe o beiço de baixo nos seus, sorvê-lo, puxá-lo para si até as comissuras se abrirem.Se essa boca por aqui passasse ele ía sabê-la na certeza de ser aquela boca.E assim restaría por mais outros cinquenta anos.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
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2 comentários:
andei a a ler-te por aqui. julgava que o milhão de histórias estava fechado. não sei como fiz confusão.
Não fizeste confusão.
Eu é que sou mais tinhosa que uma reles plagiadora.
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