Descobrira nas palavras cruzadas o escape do que o rodeava, um esconderijo para os olhos que se empatavam nos passageiros que seguíam na sua frente, assim evitava o rosto deste e daquele e ao mesmo tempo exercitava a mente ao invés de a perder nos joelhos macios da mulher que se sentava adiante e só de propósito para o perturbar. Desenhava as letras muito vincadamente, passando-lhe várias vezes o traço no mesmo sitio a carregar uma intenção, a certeza do que sabía sem erro. Tinha vezes que as fazía maquinalmente, uma musica de cor entoada nas três, quatro, seis letras, ara, tara, tâmara, medía o tempo do trajecto e a sua habilidade e rapidez sem consulta das soluções, tapava a esferográfica esborratada do acumulo de tinta e guardava apressado o livrinho companheiro marcado na folha completada. Encarcerava-se em cada quadradinho horizontal e isolava a vida nas verticais, caminhos sem saída perante as quadriculas negras.
sexta-feira, 28 de março de 2008
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