Em frente à janela há um canavial. Alto, muito alto e verde. Tapa tudo o que se possa ver, apenas se imaginam cenas de homens dobrados colhendo da sementeira passada outros tantos suores. Em frente à janela há um assobio constante e choroso que pertence a alguém que não se vê. Longo, fino e apurado. Tapa todos os sons que se pudessem escutar, outras vozes que se calam para o ouvir e até os pássaros se penduram no canavial embalados pelo vento e pelo assobio que não se vê. Em frente à janela há um homem que sangra por dentro. Saudoso mas altivo. É maior a sua dor que todas as dos suores que chorou em sementeiras passadas e em canaviais que se deitaram de lá para cá ao rumo do vento e que embalam pássaros. Em frente à janela vê-se tudo, sente-se tudo, até a lembrança do homem que não se vê.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
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1 comentário:
já li várias vezes este teu texto. só consigo comentar assim: é LINDO, é BELO.
marisa
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