Descolou as pestanas postiças, os olhos a brilharem de ardor pelo excesso de maquilhagem, muito fumo, horas poucas de sono, a realidade estampada no reflexo do espelho emoldurado por lâmpadas cruéis que exibem violentas e à medida que se despe, o homem da mulher. O homem da coisa. A coisa de coisa nenhuma. Agora é, agora já não foi. O recorte cinza da barba renasce sob o incómodo de não se ser o que se quer, as lantejoulas perdem o glamour da noite em que por algum tempo se reinventa no parto de si mesmo, tudo chora, tudo murcha, tudo silencía. Nas mãos demasiado grandes esconde o cansaço repetitivo de se voltar a encontrar com quem não quer. Quer música, néons, aplausos, um eterno show que lhe faça esquecer o peso de se vestir numa normalidade demasiado apertada, um sufocar numa pele que pinta e mascara de memórias que sonhou apenas para ter outro passado.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
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