DEC.LEI Nº344/97

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Escrever é poder amar-te



domingo, 24 de maio de 2015

CANTA-ME MAIO

Se me acontecer esquecer das palavras, um vendaval levar as estórias e a recordação do contar, fazer-me fria de mármore ao toque da tua mão mesmo que no calor repetido do verbo me digas um milhão de vezes o que te contei, canta-me Maio, entoa baixinho Maio para que desperte do feitiço dessa perdição que logo que o tom maduro me afague a memória dura, tantos homens e mulheres virão ajudar-te a ceifar o bruxedo e depois outros tantos chegarão em coro, de braço dado e mui felizes, e eu lembrada de todos farei uma roda nas mãos deles atada, linhas que escrevo vitória, Maio celebrado na história.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

IMAGINÁRIO

Em Abril segurei um livro nas mãos, abri à sorte as páginas que o vento resolveu soprar, li algumas linhas e deixei que as palavras dele faladas se embaraçassem nos cabelos como adorno, queria viajar para sempre na florescência do imaginário, histórias germinadas como tranças que me crescessem.

segunda-feira, 16 de março de 2015

AQUI E ALÉM

E ali, apontava de braço esticado, além é o outro lado e não se passa para lá, porquê, e levou o dedo à boca como se calcasse fundo todas as perguntas que já tinha pensado e agora lhe eram recusadas, porque é o outro lado e o outro é isso mesmo, o outro, mas se é o outro este não pode existir, e estendia a palma como se oferecesse a razão mágica que satisfizesse a solução para o problema, mas que coisa mais estranha, como não existir, não existir, não existir, se lá é lá aqui é cá mas para haver aqui tem de haver acolá senão não tem sentido estarmos aqui e se é assim, também nós não existimos, e levava os dois punhos à cinta vincando a posição, isso eu não sei, só sei que ali não se vai porque é o outro lado, pois eu vou porque quero saber como é aqui.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O TEMPO DE ACORDAR

O alarme tocou e ela pousou o dedo sobre o painel colorido, afinal estava acordada antes da hora, muito antes de ser preciso abrir os olhos, levantar, seguir a vida. E agora que era a hora deixava-se ficar, uma espécie de desafio ao tempo, quem ganhava mais se se erguesse na pressa como todos os dias, ela ou o tempo sempre no seu ritmo certo, que mesmo depois dela se ir haveria de continuar a rodar no mesmo movimento egoísta sem se importar com alarmes, intranquilidades, desesperos. Fechou os olhos, não dormia, contemplava os anos passados e o ganho que daí tivera. Achou nenhum. Levantou-se e preparou-se, saiu. Mas não correu, cumprimentou demoradamente quem com consigo se cruzou, olhou o céu e admirou-lhe as cores. Sabía lá se o tempo lhe pregaría uma partida e se encolhia para ela.
 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

TÃO NORMAL

Um dia hei-de escrever sem limite, sem tempo a correr na espreitadela de outros afazeres que me mordam os calcanhares, hei-se escrever tudo o que sei sobre estórias de encantar e sobre as outras que não o sendo, também têm o seu louvor por serem de homens e mulheres que as fazem, por serem estórias que parecendo da multidão são tão únicas como flores raras que vivem no limite de um dia, fenecem, esquecem aos outros da beleza que deram. Hei-de escrever sobre tudo isso como se não tivesse importância, como se fora cousa normal porque afinal serei eu uma delas.